No cenário de arquitetura e interiores de Santa Catarina, Marcelo Salum é uma representação superlativa, dono de uma carreira profissional de mais de duas décadas marcada por uma refinada assinatura de quem sabe, como poucos, aproximar o clássico e o contemporâneo, com projetos expostos no Brasil, em Paris, Miami, Chicago e Los Angeles. Em Florianópolis (SC), a mostra Artefacto 2025, que adota o tema “Viver com Arte”, ganha pelo olhar do arquiteto uma homenagem ao pintor, poeta e escritor Rodrigo de Haro (1939-2021), cujas pinturas e mosaicos inspiram a casa composta por quarto, escritório, sala de jantar, estar e biblioteca. Na capital catarinense, a Artefacto está localizada no Square SC, na rodovia SC-401.

A escolha dos móveis no projeto de Salum resulta em um requinte despojado e praieiro, potencializado pelos tons da paleta rodriguiana que se expandem para as paredes, teto e piso. “Sem arte não somos nada: ela manifesta a vida, vibra nas cores e acolhe o ser real, agregando discernimento emocional e escolhas autênticas”, diz o arquiteto que recorre à Coleção Collaço Paulo, pertencente ao Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação para sedimentar o conceito concebido como uma possível moradia secundária habitada (um pied-à-terre) por Rodrigo em algum lugar incerto do Brasil ou do mundo. “A ideia inicial foi permitir que as cores e formas das obras dele transbordassem para o ambiente, criando uma atmosfera que dialogasse com a proposta expressa em seus quadros”, diz o arquiteto.

Em contato com a museóloga da instituição, Cristina Maria Dalla Nora, Salum opta por cinco pinturas de Rodrigo de Haro, duas criadas nos anos 1990 na série “Ilha ao Luar” e outras três dos anos 1970, incluídas em “Máscara Humana”, exposição realizada pelo instituto entre 2024 e 2025 e visitada pelo arquiteto. Na ocasião, diz ele, acentua-se o desejo da homenagem. Embora centradas em um determinado período da produção do artista, as obras o envolvem, “despertando inspiração e admiração em cada detalhe”.

Ao receber o convite para participar da mostra Artefacto 2025, pensa de imediato em Rodrigo. “A escolha foi natural, tanto pela grande afinidade que tenho com o trabalho dele — pelas cores, pelos temas e forma singular com que sempre se expressou —, quanto pela conexão com o briefing da loja, que fazia referência ao manifesto de Ricciotto Canudo (1877-1923) sobre as Sete Artes. Nesse contexto, Rodrigo se destaca como um artista completo e multifacetado, transitando com maestria por diversas plataformas mencionadas por Canudo”, conta Salum.

Ainda sobre a experiência com o Instituto Collaço Paulo, o atendimento prestado pela museóloga e as conversas com Marcelo Collaço Paulo, diretor-presidente do instituto, o arquiteto lembra que não é a primeira vez que ambos compartilham conhecimento sobre arte. Neste projeto específico, a generosidade do empréstimo das obras, de acordo com Salum, são de “enorme valor para o sucesso e a realização do espaço. Os depoimentos do casal de colecionadores, amigos do Rodrigo, enriqueceram as ferramentas e inspirações para a concepção”.

Os ambientes criados por Salum incorporam duas obras que não integram a Coleção Collaço Paulo, de autoria de Sara Ramos, ceramista catarinense com vasto currículo de exposições individuais e coletivas que se situa no ambiente em sintonia com as pinturas de Rodrigo de Haro. “Eu também Venho dos Trópicos” e “Amazônia” são trabalhos recentes, da série Engolidores, criados neste ano sem conexão antecipada com o projeto de Salum, mas assim que ele os viu não pestanejou em incorporá-los, aliás, um outro acerto conceitual que demonstra a perspicácia do profissional que está no eixo Florianópolis–São Paulo aproveitando o acesso a museus, galerias e feiras. “Aos poucos, tenho construído um repertório pessoal que reverbera em minhas escolhas e me torna mais assertivo ao auxiliar meus clientes.”

Outro aspecto a observar são os objetos cedidos pelo artista Idésio Leal, que detém o espólio do artista. Bengalas, livros, estátua, vaso, chapéu, gravatas, um quimono, um pote de pinceis, entre outros materiais que ajudam a compor uma ideia do modo de viver de Rodrigo e instauram uma ambientação toda especial.

Além da amizade com o casal de colecionadores – Marcelo e Jeanine Gondin Paulo, Salum destaca outras percepções deste momento profissional. “Todo o processo de colaboração com o Instituto Collaço Paulo foi extremamente fluido, marcado por profissionalismo, respeito e gentileza. A organização impecável do instituto nos enche de orgulho e contribui significativamente para o desenvolvimento cultural da cidade. Fomentar a cultura em um país que tantas vezes negligencia essa área é crucial para a formação das futuras gerações, e, nesse sentido, a instituição deixa um legado grandioso. Estou profundamente feliz e honrado com a parceria”, sintetiza.

 

Serviço

O quê: Mostra Artefacto 2025 Florianópolis

Onde: Square SC, rodovia José Carlos Daux (SC-401), 5500, loja 16

Quando: até 2026 (1º semestre)

Quanto: gratuito

 

Saiba mais:

www.artefacto.com.br

www.marcelosalum.com.br 

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