Uma experiência enriquecedora sob o ponto de vista do conhecimento e da troca de ideias sobre arte, acervo, curadoria, colecionismo e a história da arte brasileira que resulta em um balanço positivo. A primeira edição do programa Instituto Conversa, uma das ações do Plano Educativo do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação encerrada em 15 de dezembro de 2022, fechou com uma surpresa, um gesto de generosidade que garante a partilha do catálogo “Eliseu Visconti – 150 Anos”, exposição realizada entre 29 de outubro e 10 de dezembro de 2016, na galeria Almeida & Dale, em São Paulo. O acesso à publicação pode ser feito clicando aqui: VISCONTI. Além disso, os conteúdos estão disponibilizados pelo Youtube. As duas primeiras conversas já podem ser acessadas, as duas últimas em breve estarão disponíveis.
O primeiro Instituto Conversa constituiu-se de quatro encontros em formato híbrido, presencial e virtual, com especialistas convidados do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. A iniciativa articulou-se em uma fala do pesquisador convidado com duração aproximada de 40 a 60 minutos, seguida de uma conversa com o público de mais 30 minutos. Com uma plateia expressiva, bastante interessada e participativa, diferente a cada edição, cumpriu-se a meta de criação de um espaço de aprendizagem, diálogo e reflexão.
Desafios, transparência e novas compreensões
Inaugurado em 3 de novembro com Francine Goudel, curadora-chefe do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, que pela primeira vez falou sobre o desafio de expor parte da Coleção Collaço Paulo com as necessárias adequações técnicas, artísticas e didáticas em sintonia com a filosofia da instituição. Na abordagem “Mais humano: Como Nasce uma Exposição e um Centro de Arte e Educação”, ela deu transparência aos conceitos e procedimentos curatoriais da mostra “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930” que está prorrogada até 17 de fevereiro.
Ana Maria Tavares Cavalcanti, referência nos estudos e pesquisas sobre a arte brasileira, participou em 17 de novembro com o tema “Pintura Brasileira Entre os Séculos 19 e 20: Uma Coleção de Histórias” que amplia a compreensão histórica, as percepções técnicas, culturais e contextuais. Segundo ela, não interessam só os aspectos visuais de uma obra de arte, mas também o que não aparece nelas. Muitos são os caminhos possíveis de análise e as possibilidades de aproximação de trabalhos artísticos entre períodos e autores diferentes. As comparações devem ser estimuladas. Passados cem anos da Semana de Arte Moderna, no seu entendimento é hora de abrir o leque, entender a rejeição dos modernistas com relação aos pré-modernistas, olhar para trás sem preconceitos para “ver o que tem de valor e faz conhecer a nós próprios”.
No dia 8º de dezembro, Ylmar Corrêa Neto inaugurou o programa Clube de Colecionadores de Arte de Coqueiros (CCAC) com a fala “Um Clube de Colecionadores em Coqueiros”. Na ocasião, falou da Coleção Catarina constituída por ele, tratou de desmitificar conceitos que tangenciam a prática e pontuou os objetivos do clube, o primeiro em Santa Catarina, que quer produzir conhecimento sobre colecionismo.
Por fim, “O Pré-Modernismo de Eliseu Visconti” foi o assunto de Denise Mattar, nome de destaque no universo da pesquisa e curadoria de artes visuais no Brasil. Um dos artistas mais importantes da Coleção Collaço Paulo, Visconti (1866-1944), aluno da Academia Imperial de Belas Arte e precursor na transição do cânone acadêmico para as rupturas do modernismo. Fala apaixonada, trouxe curiosidades, um arsenal de imagens pouco vistas, os bastidores da curadoria da mostra “Eliseu Visconti – 150 Anos”, exposição realizada em 2016, na galeria Almeida & Dale, em São Paulo, e anunciou a partilha do catálogo da mostra por meio de um link com o Instituto Collaço Paulo.
Conhecedores da produção artística do século 19 e 20, inteirados sobre a importância dos acervos e das coleções -, todos com expertise, os convidados ganharam a atenção de pesquisadores de diferentes partes do Brasil, em encontros bem animados que contaram com o comparecimento carinhoso de Tobias, neto de Visconti, um dos 34 artistas da mostra “Mais Humano: Arte do Brasil de 1950-1930” que aparece com cinco trabalhos: “Raios de Sol”, “A Visita”, “Nu Masculino Sentado com Bastão”, “Retrato de Louise” e “Sem Título”. Além de Tobias, que participou em duas conversas, Myrine Vlavianos, Julia Rocha, Josué de Mattos, Helena Fretta, Sandra Makowiecky, Jair Fernandes da Silva Jr., Eliete Colombeli, Gisele Palma Moser, Simone Bobsin, Lena Peixer, Zeca Pires, Niura Borges marcaram presença, entre outras representações do universo da pesquisa, da arte, do mercado empresarial, da medicina, do cinema e do jornalismo.
Apuro e sensibilidade
Myrine Vlavianos, diretora do Instituto Nicolas Vlavianos, com sede em São Paulo, analisa: “Em novembro pude conhecer o novo Instituto Collaço Paulo e participar de um encontro com a curadora Francine Goudel, na primeira edição do Instituto Conversa. Foi um grande prazer ver reunidas na bela casa que sedia o instituto, obras colecionadas durante décadas – com todo apuro e sensibilidade – pelo casal Collaço Paulo. Uma coleção de arte de importância nacional, que agora está aberta para a fruição do público catarinense. A apresentação da curadora mostrou o quanto a equipe do centro cultural está determinada a torná-lo uma referência na arte educação. Saí de lá com a vontade de contar para todo mundo o quanto Florianópolis é privilegiada por abrigar esse espaço único, que certamente terá papel preponderante na difusão da cultura brasileira para todos os públicos, dos pequenos aos maduros, dos leigos aos especialistas”.
Lena Peixer, artista e arte educadora, uma referência em Florianópolis, acompanhou mais de um encontro do Instituto Conversa. Para ela, assídua frequentadora, estar no Instituto Collaço Paulo representa um momento de contemplação e prazer. “Nas conversas com o público, o espaço tornou-se ainda mais educativo com uma bagagem de conhecimento entre os palestrantes, os visitantes e a equipe de profissionais que fizeram uma ponte entre o público e a exposição, permitindo e sugerindo leituras diversas, ampliando as possibilidades de reflexões diante das obras apresentadas.”
Colecionadora de obras de arte em pequeno formato e de máquinas fotográficas antigas, a artista Adriana Füchter considerou muito construtivo e proveitoso participar da reunião dos colecionadores. “Um encontro em que Ylmar Corrêa Neto definiu bem sobre a diferença de ter arte e o hábito de colecionar arte ou até outros objetos queridos. De uma forma racional e que faça sentido a quem queremos mostrar, a prática pede simplicidade e prazer, algo que possa construir histórias divertidas.” Além de agradecer a oportunidade da participação, Adriana, assim como Myrine e Lena, querem que venham muitas outras iniciativas.
Fotos NProduções