Programa “Retroprojetor: Encontros do
Olhar” segue no Instituto Collaço Paulo
Uma conferência no Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação convida a fazer um percurso para compreender o pensamento e as manifestações culturais da sociedade contemporânea. Idealizador do programa “Retroprojetor: Encontros do Olhar”, Raul Antelo compõe seis conferências realizadas entre abril e outubro, duas das quais proferidas por ele mesmo e as demais por pesquisadores que receberam o seu convite. Mensais, sempre às 19h30, Antelo movimenta o instituto na próxima segunda-feira, dia 31 de julho. Com entrada gratuita, a participação é por ordem de chegada e as vagas são limitadas.
“A Eterna Ironia da Comunidade: Arte Normal, Anormal, Degenerada” é o tema da segunda conferência do pesquisador, professor, autor de livros que são referência no campo da literatura e das artes visuais. Envolvido com o conhecimento por meio de exposições, desde a sua criação em julho de 2022, o instituto investe em ações capazes de alargar sensibilidades e conexões com a comunidade. De olho na exposição “Elke Hering – Metamorfoses”, aberta com visitação gratuita até o dia 2 de dezembro, Antelo recorre à historiadora da arte Linda Nochlin (1931-2017) que no passado coloca a clássica e incômoda questão: por que não há boas artistas mulheres?
Diante da autora de um texto emblemático sobre mulheres artistas e o papel do feminismo na história da arte, o ensaio ecoa até hoje nas pesquisas sobre o universo feminino. Para abordar tema tão delicado, Antelo lembra que há exatamente um século, Mário de Andrade (1893-1945) destaca justamente o contrário, ou seja, “o surto de boas modernistas, não só as previsíveis Anita Malfatti (1889-1964) ou Tarsila do Amaral (1886-1973), mas também as relativamente esquecidas Regina Veiga (1890-1968) e Georgina de Albuquerque (1885-1962), às que, mais adiante, se somariam algumas exiladas pela guerra, a artista e curadora Irmgard Burchard (1908-1964) e a historiadora da arte Hannah Levy (1912-1984)”.
Avanços e apoio cultural
Produto cultural totalmente patrocinado pela Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (modalidade doação), o projeto expositivo de Elke Hering conta com o apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi), apoio cultural da Ibagy, parceiros que possibilitam uma agenda de encontros e reflexões. O Instituto Collaço Paulo realiza ações educativas com visitas mediadas e práticas imersivas. Neste momento, a meta é delinear a construção de conteúdos auxiliares ao percurso expositivo como o lançamento de uma série de vídeos com audiodescrição e tradução em libras, e visitas mediadas em libras. Os recursos viabilizam também o transporte para grupos de estudantes da rede pública municipal.
Atitude genealógica e arqueológica
Nesta conferência, Raul Antelo parte “do pressuposto de que não há como sustentar uma reflexão estética, nem mesmo uma contestação política, acerca da história contemporânea, sem uma atitude genealógica e arqueológica que revele seus sintomas, seus movimentos inconscientes, suas derivas e desvios”.
O viés conceitual do programa “Retroprojetor: Encontros do Olhar” tem como base o teórico André Malraux (1901-1976) que vê o museu como uma afirmação e, também, outras concepções, como a do museu imaginário, que é, conforme Antelo, “um questionamento, que leva a colar, montar experiências e espaços descontínuos (plásticos, filosóficos, políticos) para devolver ressonâncias a cada peça que contemplamos”.
Outro pensador adotado é Didi-Huberman que propõe como desafio “tornar a partir do zero: repensar as coisas de A a Z. Aprender de novo, sem descanso, começando pelas coisas de aparência mais simples. Ensaiar sem partir de um axioma: testar para ver, inventar novas regras do jogo e adotá-las apenas se doam algo, se são fecundas (atitude que os eruditos denominam heurística). Seja com a seriedade de uma empresa pedagógica, seja com o alvoroço de uma criança que lançará as letras do abecedário pelo ar: essa é a atitude própria da gaia ciência, com a qual Nietzsche (1844-1900) nos incita a subverter a separação secular entre o inteligível e o sensível”. O retroprojetor, explica o conferencista, permite captar “dinamogramas”, ou seja, deslocamentos provocados pelas falhas sísmicas, os movimentos tectônicos, as fraturas na história.
Sempre no mesmo horário, às 19h30, no dia 28 de agosto é a vez de Bianca Tomaselli refletir sobre “Surrealismo, Matéria e Magia” e, para encerrar, no último encontro, agora com nova data, em 2 de outubro, Andrea Giunta enfoca “Brasilidade e Simultaneidade: Elke Hering entre Munich, Bahia e Blumenau”.
AGENDA
31 de julho de 2023, 19h30 – Raul Antelo – “A Eterna Ironia da Comunidade: Arte Normal, Anormal, Degenerada”
28 de agosto de 2023, 19h30 – Bianca Tomaselli – “Surrealismo, Matéria e Magia”
2 de outubro de 2023, 19h30 – Andrea Giunta – “Brasilidade e Simultaneidade: Elke Hering entre Munich, Bahia e Blumenau”
Já realizados
24 de abril de 2023, 19h30 – Raul Antelo – “Dois Discípulos de Othon Friesz: Sgarbi e Martinho”
29 de maio de 2023, 19h30 – Rosângela Miranda Cherem – “Os Vazios de Martinho”
26 de junho de 2023, 19h30 – Ivo Mesquita – “A Resistência da Figura: Martinho, Di Cavalcanti e Outros Brasileiros Entre 1945 e 1955”
PARTICIPANTES
Raul Antelo – lecionou na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC) e nas de Duke, Texas at Austin, Maryland e Leiden. Presidiu a Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic) e recebeu o doutorado honoris causa pela Universidad Nacional de Cuyo. É autor de “Maria com Marcel. Duchamp nos Trópicos”; A Ruinologia; Visão e Potência-do-não”; “A Máquina Afilológica”; “En Muerte: Miniaturas Urbanas”; “Azulejos. Lo Transvisual y la Arqueología de lo Moderno” e “Inventário de Sonhos Usados. Goya plagia Didi-Huberman”. Editor de Mário de Andrade, Jorge Amado e João do Rio, publicou, em colaboração, “Lirismo+Crítica+Arte=Poesia. Um século de Pauliceia Desvairada”.
Rosângela Miranda Cherem – doutora em história pela Universidade de São Paulo (USP) (1998) e doutora em literatura pela UFSC (2006); professora titular de história e teoria da arte no curso artes visuais e Programa de Pós-graduação em Artes Visuais no Centro de Arte (Ceart), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc); coordenadora do Grupo de Estudos Imagem-acontecimento; orienta, tem pesquisas e publicações sobre história das sensibilidades e percepções modernas e contemporâneas. Pesquisa, atualmente, sobre acervos e arquivos artísticos em Santa Catarina
Ivo Mesquita – historiador da arte, curador e escritor independente baseado em São Paulo. Foi diretor técnico e curador chefe da Pinacoteca do Estado de São Paulo
(2003/15), diretor Artístico da 28ª Bienal de São Paulo (2008) e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (1999-2002); Professor visitante no Center for Curatorial Studies, Bard College, NY (1996-2007); pesquisador e curador assistente na Fundação Bienal de São Paulo.
Bianca Tomaselli – doutora em literatura pela UFSC, com estágio na Universidad de Granada (Espanha). Mestra em artes visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Grupo Hispania na Escola Internacional de Doutorado da Universidade da Coruña, trabalha junto ao Institut de Recherche sur le Cinéma et l’Audiovisuel da Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, pesquisando vanguardas e fascismos pós-1945. É arquiteta e urbanista pela UFSC e bacharel em artes plásticas pela Udesc, onde foi professora colaboradora do Departamento de Artes Visuais (2015-19). Como artista, tem obras no acervo de instituições públicas como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (ES), Fundação Nacional de Artes (RJ), Fundação Joaquim Nabuco (PE) e Museu Nacional Victor Meirelles (SC).
Andrea Giunta – curadora, escritora e professora de arte latino-americana e arte moderna e contemporânea na Universidad de Buenos Aires, onde doutorou-se. Co-curadora da exposição “Radical Women: Latin American Art – 1960–1985”, Hammer Museum, LA, Brooklyn Museum, NY e Pinacoteca de São Paulo (2017-18). Curadora chefe da 12ª Bienal do Mercosul, “Feminismo(s). Visualidades, Ações, Afetos”, Porto Alegre (2020) e da exposição “Puisqu’il Fallait Tout Repenser” (Galería Rolf, Buenos Aires, 2020 / Les Rencontres d’Arles, 2021). Autora de “Feminismo y Arte Latinoamericano. Historias de Mujeres que Emanciparon el Cuerpo” (Siglo 21, 2018, 8ª ed. 2022), traduzido como “The Political Body” (University of California Press, 2022) e de “Contra el Canon. El Arte Contemporáneo en un Mundo Sin Centro” (Siglo 21, 2020), traduzido ao português, “Contra o Cânone: Arte Contemporânea em Um Mundo Sem Centro (Editora Nave, 2022).
EQUIPE TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO “ELKE HERING – METAMORFOSES”
Curadoria, expografia e textos: Denise Mattar
Assistente de curadoria: Felipe Barros Brito
Consultoria: Daiana Schvartz
Colaboração: Rafaela Hering Bell
Produção: Francine Goudel
Coordenação de acervo: Cristina Maria Dalla Nora
Montagem: Flávio Xanxa Brunetto
Material educativo: Joana Amarante e Ana Martins
Cenografia: Guilherme Isnard
Revisão e edição de textos: Néri Pedroso
Material gráfico: Ana Lucas
Fotografia: Eduardo Marques e Acervo Rafaela Bell
REALIZAÇÃO: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação
APOIO: Sesi
APOIO CULTURAL : Ibagy
PATROCÍNIO: Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (modalidade doação), Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. ENTRADA GRATUITA.
SERVIÇO EXPOSIÇÃO
O quê: exposição “Elke Hering – Metamorfoses”
Quando: Até 2.12.2023; seg. a sex., 13h30 às 18h30, sáb., 10h30 às 15h30
Onde: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, rua Des. Pedro Silva, 2.568, bairro Coqueiros, Florianópolis (SC), tel.: (48) 3025-4058
Quanto: gratuito
SERVIÇO CONFERÊNCIA
O quê: Programa “Retroprojeto: Encontros do Olhar”, com Raul Antelo
Quando: 31.7.2023, 19h30
Onde: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, rua Des. Pedro Silva, 2.568, bairro Coqueiros, Florianópolis (SC)
Quanto: gratuito. Vagas limitadas, por ordem de chegada.