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Do humano ao divino

Mostra no Instituto Collaço Paulo investiga

narrativas atreladas ao sagrado e devocional

Um novo e inusitado recorte na Coleção Collaço Paulo resulta na exposição “Etérea” que abre no dia 20 de dezembro, no Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, em Florianópolis (SC), com cerca de cem obras, entre trabalhos artísticos e artefatos que se aproximam pelo sagrado. Criadas por artistas conhecidos e desconhecidos, representativos de diferentes escolas e países, as peças abarcam religiões de matrizes distintas, um tempo que se estende entre os séculos 14 e 21, além de uma ampla gama de materialidades e linguagens – bronze, cerâmica, madeira, pintura, escultura, entre outras. O conjunto chama a atenção ora pela imponência e suntuosidade, ora por um austero vigor ou, em outros momentos, pela simplicidade. Sempre sob a ótica do pensamento de uma época, o visitante deve estabelecer correspondências constantes entre as mudanças nos âmbitos do tempo, da vida e da arte, a mostra convida à reflexão. Importante um exame mais atento às raridades.

A curadoria de Francine Goudel estabelece uma narrativa que permite pensar o sagrado, a crença, a devoção, o altruísmo, os mitos, o humano. “Etérea”, diz ela, é um mergulho na Coleção Collaço Paulo, por entre imagens seculares do acervo que suscitam a consistência dessas criações. “Com representações santificadas, objetos e peças que transitam entre o popular e o erudito, de diferentes escolas e matrizes temporais, a exposição agrupa e investiga os mistérios das concepções e narrativas atreladas a fé, ao sagrado, profano e devocional”.

A exposição conta com o apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi), o apoio cultural da Corporate Park, Ibagy e Paradigma Cine Arte, e o patrocínio da Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (modalidade doação), Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes.

Uma atenta percepção do espectador acionará relações entre ritos, mitos e símbolos religiosos, um modo como as tradições religiosas adotaram para se comunicar com os fiéis. Entre tempos imemoriais, o antigo e a atualidade, entre os séculos 14 e 21, a mostra em “suas heterogêneas abordagens”, como diz a curadora, propõe conexões entre aspectos materiais e espirituais de gerações distintas, ajudando, quem sabe, a conhecer e apreender o mundo e a existência sob uma nova ótica.

Preciosidades

Em salas distintas da exposição “Etérea”, uma delas é dedicada à Santa Catarina de Alexandria que dá nome ao Estado. Em 1526, quando desembarca na então chamada Ilha dos Patos, o navegador italiano Sebastião Caboto batizou o lugar como Ilha de Santa Catarina. Nascida na cidade egípcia de Alexandria, Catarina cresce como uma pagã, mas em sua juventude converte-se ao cristianismo. Bela, inteligente e culta, estuda filosofia, teologia e outras ciências, razão pela qual é evocada como protetora dos estudantes, intelectuais e filósofos. Imortalizada pela literatura e arte, a Universidade de Paris a tem como padroeira, assim como o Estado de Santa Catarina. Muitas histórias e lendas marcam a vida da santa que pode ser apreciada na mostra em cinco representações: da Europa, na técnica óleo e douramento sobre cobre, datado entre os séculos 16 e 17; do Brasil, entre o século 18 e 19, uma escultura em madeira policromada; um óleo sobre tela do século 18, da escola cusquenha, instituição de pintura colonial peruana centrada na cidade de Cuzco, apontada como o primeiro centro pictórico organizado no então chamado Novo Mundo; “Santa Catarina Princesa de Alexandria”, um Rodrigo de Haro do fim dos anos 1960 realizado em acrílica sobre eucatex. E, por fim, um fragmento, um óleo sobre tela, também representativo da escola cusquenha do século 18.

Por sua importância, volta-se de novo à pintura cusquenha que surge como arte eclesiástica com fins didáticos – sobretudo no campo doutrinário, da catequese. Com o processo de apropriação das riquezas da nova colônia, os espanhóis investem na conversão das almas pagãs à religião católica e, para isso, associam a imagem e a palavra, recurso eficaz de transmissão do catolicismo.

Raro e belo

Outro momento extraordinário da mostra “Etérea” é o oratório de conchas de Xavier das Conchas, apelido de Francisco dos Santos Xavier (1739-1814), considerado um pioneiro da arte tridimensional no Estado. Nasce no Rio de Janeiro, mas vive cerca de 30 anos na antiga Desterro. Feita de conchas, pedra, sabão, ouro e prata, do século 18, a obra “São João Batista e o Cordeiro”, é uma raridade e sua vinda para Santa Catarina representa uma grande conquista, porque dá acesso a um Xavier das Conchas por meio de uma coleção privada, à disposição gratuita do público.

Ainda no passado, mas com o pé firme no contemporâneo, umas das salas destaca a imagem de São Sebastião (c. 256-288), soldado romano, martirizado por não renegar a fé em Cristo Jesus, que dá nome a cidades, padroeiro de outras. Geralmente representado como um jovem amarrado a uma estaca e perfurado por flechas, é o santo masculino mais retratado na história da arte. Torna-se um ícone de diferentes expressões artísticas, destacado por pintores da Renascença, é tema de inúmeros livros e filmes. O compositor Debussy (1862-1918), por exemplo, produz em 1911 “Le Martyrre de Saint Sébastien”, um mix de cantata e drama lírico. O pintor Eliseu Visconti (1866-1944) conquista em 1904, nos Estados Unidos, na Exposição Universal de Saint Louis, a medalha de ouro com sua tela “Recompensa de São Sebastião”. Para a crítica de arte Susan Sontag (1933-2004), seu rosto não registra a dor física, e a beleza está dissociada do sofrimento, postura imponente que explica, de certo modo, as evocações da comunidade LGBTQIA+.

Na mostra do Instituto Collaço Paulo, a imagem de São Sebastião aparece em seis obras, cinco telas e uma escultura em madeira policromada. Um dos óleos, representativo da escola italiana, data do século 17, assim como a escultura que vem da escola espanhola. As demais são de artistas contemporâneos, três de Santa Catarina – Fernando Lindote, Rodrigo Cunha e Walmor Corrêa, e uma do Paraná, Lara Baruzzo. “Confeccionada por artistas que perseguem a visualidade do tema num marco temporal alargado, que na contemporaneidade usufruem de uma liberdade interpretativa e discursiva, propícia para o seu tempo”, situa a curadora. Com suas singularidades expressivas, Lindote, Cunha, Corrêa e Baruzzo apresentam telas vistosas, com alta carga dramática.

Propostas do Núcleo Educativo

Com longa duração, até 29 de junho de 2024, a mostra “Etérea” retoma o horário das 13h30 às 18h30 nos sábados e se abre para um novo ciclo de propostas do Núcleo Educativo em favor da qualificação do receptivo, aberto para atender os inúmeros pedidos de escolas públicas e privadas, bem como de representantes do terceiro setor (organizações não-governamentais), interessados na promoção da arte em favor da sensibilização e da amplitude do conhecimento em torno das exposições. Seguem, portanto, com uma série de atividades, entre elas os programas Instituto Conversa, Sábados com Arte e Instituto Entrevista. Com entrada gratuita, os programas são abertos à comunidade. Os agendamentos podem ser feitos através do formulário encontrado em http://institutocollacopaulo.com.br/educativo

Sobre o Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação

Uma coleção de arte carrega conexões profundas entre o passado, o presente e o futuro. Complexo, o colecionismo pode ser um pilar de atuação na busca de conhecimento em diferentes áreas do saber e, assim, transformar realidades socioeducativas. Com essa convicção, o Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, entidade sem fins lucrativos fundada em 2022, se associa à história artística e cultural de Florianópolis. A Coleção Collaço Paulo, de Jeanine e Marcelo Collaço Paulo, tem a missão de compartilhar e promover a arte sobretudo por meio de exposições e de programas de cunho educativo voltados à comunidade.

Sinopse de “Etérea”

Há muitos anos a humanidade busca representar em imagem a consciência do que poderia ser sagrado, cria alegorias sobre a fé e esboça as narrativas sobre as sofridas existências dos que procuram a devoção, o altruísmo e a benevolência. “Etérea” propõe um mergulho na Coleção Collaço Paulo, por entre imagens seculares do acervo que suscitam a consistência dessas criações. Com representações santificadas, objetos e peças que transitam entre o popular e o erudito, de diferentes escolas e matrizes temporais, a exposição agrupa e investiga, em mais de cem peças, os mistérios das concepções e narrativas atreladas à fé, ao sagrado, profano e devocional.

Equipe Técnica

Acervo: Coleção Collaço Paulo

Curadoria, expografia, produção executiva e textos: Francine Goudel

Captação de recurso e produção administrativa: Harmônica Arte e Entretenimento

Assessoria de imprensa, revisão e edição de textos: Néri Pedroso

Material e ações educativas: Joana Amarante, Iam Campigotto e Marcello Carpes

Coordenação de acervo: Cristina Maria Dalla Nora

Conservação e restauração do acervo: Sara Fermiano

Montagem: Flávio Xanxa Brunetto

Apoio de montagem: Valmir Tidres e Adriano Lessa

Assistente de produção: Iam Campigotto

Material gráfico e identidade visual: Lorena Galeri

Fotografia: Eduardo Marques

Realização: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação

Apoio: Sesi

Apoio Cultural: Corporate Park, Ibagy e Paradigma Cine Arte

Patrocínio: Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e Prefeitura de Florianópolis

Serviço

O quê: exposição “Etérea”

Quando: 20.12.2023, abertura. Até 29.6.2023; seg. a sáb., 13h30 às 18h30

Onde: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, rua Des. Pedro Silva, 2.568, bairro Coqueiros, Florianópolis (SC)

Quanto: gratuito

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