Como uma fotografia reverbera entre diferentes temporalidades, atravessando o passado e o presente? Uma imagem de Pedro Alípio (1949-2024), fotógrafo nascido em Ilhota (SC) que ao longo de sua vida profissional apostou sobretudo no retrato, aciona conversas e encontros dentro do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação que promove a exposição “Máscara Humana”, de Rodrigo de Haro (1939-2021). De sua autoria, no receptivo, uma imagem em preto e branco de uma sala, documenta uma ação performativa na qual o artista cercado de objetos e pequenas esculturas aparece diante de uma jovem mulher que se esconde por detrás de uma máscara. Captada no começo dos anos 1980, na Lagoa da Conceição, a foto é emblemática.

Disponibilizada pelo artista Idésio Leal que detém o espólio de Rodrigo de Haro, a imagem apresentada em 2,30 m x 4,30 m passou a funcionar no espaço expositivo como um dispositivo instagramável. Além disso, ela tem a potência de provocar reencontros, ou seja, viabiliza a descoberta e a visita da jovem mulher mascarada integrante do ensaio produzido pelo artista. Sandra Meyer, bailarina, professora aposentada, renomada crítica, presidenta do Instituo Meyer Filho, depara-se com o próprio passado e as memórias de um momento efervescente na cena cultural, quando o artista promovia saraus, reuniões festivas para ouvir música, declamar poesia, dançar, conversar. Noites movimentadas que aglutinavam convidados interessados em criação e reflexão sobre arte. Neste contexto ocorriam happenings, manifestação artística que associa teatro e artes visuais, propostas por Rodrigo. Sem texto ou roteiro pré-definido, uma ação que se dá em tempo real que Pedro Alípio definia como ensaios fotográficos.

A fotografia de Alípio conecta-se à exposição também de um outro modo. Nela é possível identificar dez objetos pertencentes a Rodrigo de Haro e incluídos no projeto curatorial de Francine Goudel, assim como uma pintura e uma cadeira. Amigos do artista por 50 anos, o casal Jeanine e Marcelo Collaço Paulo agregou à Coleção Collaço Paulo mais do que pinturas e desenhos. A cadeira italiana art noveau em madeira policromada, datada em cerca de 1900, bem como os vasos em bronze, em pasta de vidro, em vidro iridescente ou em latão, pequenas esculturas em bronze e as cerâmicas esmaltadas, enriquecem a mostra no sentido de que revelam um homem de bom gosto, conhecedor de antiguidades e de arte decorativa.

 

Artista da fotografia

A carreira de fotógrafo de Pedro Alípio começa em Itajaí (SC), onde direcionou cedo o interesse ao retrato de pessoas em estúdio, no ano de 1970. Mais tarde, trabalhou nas áreas de publicidade, jornalismo e arte. Tem fotos de sua autoria publicadas em inúmeros livros e catálogos de arte, campanhas publicitárias, reportagens em jornais e revistas catarinenses e nacionais. Em 1979, criou o Núcleo de Fotografia de Florianópolis, movimento coletivo pioneiro da área que lançou muitos profissionais na cidade. No fim dos anos 1980, atuou como still photographer em Los Angeles, Califórnia (EUA), em produções cinematográficas. Autor do livro “O Segredo das Pessoas, sobre o Eneagrama” (Editora Gente, 1997), ministrou cursos sobre o tema.

Em 2010, principia um roteiro de viagens pelo mundo no quais incorpora imagens e momentos singulares de pessoas e lugares, pratica o conceito miksang, termo tibetano que evoca um “bom olho” e uma fotografia contemplativa. O site que leva o nome de Pedro Alípio reflete parte desta trajetória, dos anos 1980 até a atualidade, no qual Pedro Alípio atesta sua experiência na área de fotografia com o interesse pelo autoconhecimento (https://pedroalipiofotografias.com.br/)

 

Sobre Sandra Meyer

Artista da dança, pesquisadora, professora e produtora cultural. Atuou como professora titular do Centro de Artes (Ceart) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), onde lecionou dança e técnicas corporais no curso de licenciatura em teatro. Integrou o Programa de Pós-Graduação em Teatro (mestrado e doutorado) da mesma instituição (PPGT/ Udesc). Implantou e coordenou o curso de Pós-Graduação em Dança Cênica (especialização lato-senso) do Ceart/ Udesc. É doutora em comunicação e semiótica pela PUC/São Paulo, autora do livro “A Dança Cênica em Florianópolis” (FFC, Florianópolis: 1994) e “As Metáforas do Corpo em Cena” (AnnaBlume, São Paulo: 2009, 2011). É co-autora de outros livros sobre dança, bem como de artigos em revistas científicas da área de artes cênicas. Integra o projeto de dança Corpo, Tempo e Movimento e atualmente cocoordena o projeto Midiateca de Dança e preside o Instituto Meyer Filho, associação cultural que cuida do legado do artista Meyer Filho (1919-1991), seu pai.

 

Sandra Meyer num atravessamento cronológico provocado por uma foto de Pedro Alípio: ela de máscara e agora, no tempo atual

NProduções/Foto Divulgação

 

 

Realização: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação

Apoio: Sesi

Apoio Cultural: Ibagy, Cassol, Softplan, Hurbana, Corporate Park e Paradigma Cine Arte

Patrocínio: Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (modalidade doação), Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

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