O Sesc Vila Mariana, em São Paulo, abrigou no último dia 3, uma concentração expressiva de críticos de arte, curadores, artistas visuais, pesquisadores, autores e representantes de instituições. Prestigiado, o cerimonial da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) reuniu personalidades de diferentes partes do Brasil que acompanharam a solenidade de condecoração de pessoas e entidades que prestaram serviço em favor da valorização da cultura brasileira entre 2019 e 2022. A pandemia impediu a celebração das condecorações de 2019 e impossibilitou as votações em 2020 e 2021.
Com novidades na edição de 2022 e um belo troféu criado pela escultora, gravadora, pintora e professora Maria Bonomi, o encontro abriu com a fala da presidenta da ABCA, Sandra Makowiecky, que expôs a ampliação das categorias a partir da última votação. Em perspectiva inclusiva, foram acrescentados os prêmios Emanoel Araújo, Yêdamaria, Gilda de Melo e Sousa, além dos Destaques Regionais. Com isso, a premiação, instituída em 1978, reforçou o compromisso de estabelecer debates e reflexões sobre a teoria e a prática artística como condição para o exercício da crítica de arte, assim como a sintonia com as representações e as frequentes transformações globais no sistema das artes.
O Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação conquistou dois dos novos prêmios: o de Destaque da Região Sul na categoria que valoriza cada região do Brasil, outorgada pelo acervo, conservação e documentação histórica da Coleção Collaço Paulo, e o Gilda de Melo e Sousa, concedido à Francine Goudel, curadora-chefe, que conquistou o troféu voltado a críticos de arte, em começo de carreira, por sua produção ou engajamento em projetos inovadores de divulgação da arte.
Na solenidade, Francine recebeu o prêmio da crítica Leonor Amarante não só por sua recente atuação junto a Coleção Collaço Paulo, mas como autora de pesquisas que buscam engajamento descentralizador da crítica de arte no país. Com textos sobre artistas e acervos catarinenses, difundidos em livros, revistas e periódicos, em 2020 publica um estudo detalhado sobre o modo de produção, circulação, validação e consumo da arte em Florianópolis, fruto de sua tese doutoral.
Representando a equipe do instituto, a solenidade de entrega dos troféus, em São Paulo, contou com a presença de Jeanine Gondin Paulo e Marcelo Collaço Paulo, o casal mantenedor da Coleção Collaço Paulo, da curadora-chefe Francine Goudel e da jornalista Néri Pedroso, responsável pela produção de conteúdo e comunicação.
Reencontros, emoção e reconhecimentos
Em tom de reencontros pós-pandêmicos, Ana Mae Barbosa foi ovacionada, trouxe emoção e aplausos na entrega do prêmio Yêdamaria que reconhece instituições, pessoas e projetos que promovam ações de impacto amplo em processos educativos e de mediação em distintos campos das artes, em espaços formais e não formais. O decano José Roberto Teixeira Leite ganhou fala e trouxe humor inteligente, cheio de citações. Muitas personalidades do saber subiram ao palco, além da recente saudade de Emanoel Araújo (1940-2022), homenageado como artista pela trajetória (Prêmio Clarival do Prado Valladares) ou das lembranças in memoriam, como do professor, pintor e desenhista gaúcho Carlos Pasquetti (1948-2022) e do desenhista, pintor, escritor e crítico de arte João Evangelista Andrade Filho (1931-2021), que viveu em Florianópolis onde administrou o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), entre 1999 e 2008.
Agentes de arte e cultura no cenário nacional
A crítica de arte e professora Luana Wedekin*, fez a entrega do prêmio Destaque da Região Sul. Sobre a cerimônia da ABCA em São Paulo, ela escreveu:
“Na última terça-feira, 03/10/2023, no teatro do Sesc – Vila Mariana, foi realizada a cerimônia de entrega do Prêmio ABCA de 2019 e 2022. Um evento de celebração dupla em todos os sentidos, pois marcou o retorno do prêmio após um ‘recesso’ devido à pandemia de covid-19. Como vice-presidente Regional Sul, coube-me entregá-lo ao Instituto Collaço Paulo para seus fundadores, Dr. Marcelo Collaço Paulo e Jeanine Gondin Paulo, acompanhados de Néri Pedroso e Francine Goudel, representando toda a equipe. O troféu, assinado por Maria Bonomi, referia-se à categoria Reconhecimento de coleção/acervo/conservação/documentação histórica 2022. É uma categoria nova, criada na gestão de Sandra Makowiecky como presidente (triênio 2022/2023/2024). Senti-me muito honrada e feliz por participar deste momento tão especial! A solenidade reconheceu também o trabalho de Francine Goudel com o Prêmio Gilda de Melo e Sousa, uma categoria igualmente recém-criada, com o intuito de reconhecer críticos/as em início de carreira, independentemente da idade, por sua produção, ou engajamento em projetos inovadores de divulgação da crítica de arte. Trata-se, portanto, de uma curadora mulher recebendo pela primeira vez o prêmio nomeado como homenagem a uma intelectual destacada por sua atuação como ensaísta, crítica de arte e professora universitária de estética. Com os dois prêmios, Santa Catarina aparece com bastante destaque no circuito de reconhecimento de instituições e agentes de arte e cultura no cenário nacional. Considerando que o Instituto Collaço Paulo foi inaugurado há cerca de um ano, a dupla premiação marca sua vocação brilhante. Parabéns a toda a equipe do instituto, cuja dedicação já está gerando os melhores frutos”.
* Luana Wedekin, profa. Departamento de Design e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, linha de teoria e história da arte, Ceart/Udesc; editora-chefe da Revista Palíndromo; vice-presidente Regional Sul da ABCA.
SC nos 45 anos de premiações da ABCA
2001 – Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) recebe menção honrosa;
2005 – Osmar Pisani – Prêmio Mário de Andrade, pela trajetória como crítico de arte;
2007, “Centenário Martinho de Haro”, no Masc, recebe o Prêmio Paulo Mendes de Almeida como melhor exposição do ano;
2014, Sandra Makowiecky – Prêmio Gonzaga Duque, por sua atuação como crítica de arte.
Escala nacional
Os prêmios da ABCA são atribuídos pelo resultado da votação dos associados em escala nacional. O sistema de premiação, criado em 1978, destaca exclusivamente as artes visuais. A ABCA está na história por sua presença significativa nos eventos artísticos desde a década de 1950. Anualmente, o Prêmio ABCA contempla 13 categorias, inclui os destaques regionais, totalizando 18 prêmios.
Contemplados 2022
Prêmio Destaques Regionais: destinado a cada região do País – Norte, Sul, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste
Região Sul: Instituto Collaço Paulo – Reconhecimento de coleção/acervo/conservação/documentação histórica
Região Norte: Mariza Mokarzel – crítico de arte, pela trajetória
Região Sudeste: Glória Ferreira- crítico de arte, pela trajetória
Região Nordeste: Raul Córdula – artista pela trajetória
Região Centro-oeste: Helô Sanvoy – artista contemporâneo
Prêmio Gilda de Melo e Sousa: destinado ao reconhecimento de críticos/as, em início de carreira, independentemente da idade, por sua produção, ou engajamento em projetos inovadores de divulgação da crítica de arte
Francine Goudel
Prêmio Gonzaga Duque: destinado a crítico associado, pela sua atuação ou publicação de livro
Alessandra Simões Paiva
Prêmio Sérgio Milliet: pesquisador (associado ou não), por trabalho de pesquisa publicado
Maria Amélia Bulhões – “Desafios – Arte e Internet no Brasil” (2022, Editora Zouk)
Prêmio Mário Pedrosa: artista contemporâneo
Fernando Lindote
Prêmio Paulo Mendes de Almeida: melhor exposição do ano
“Raio que o Parta: Ficções do Moderno no Brasil” – Sesc 24 de maio, São Paulo
Prêmio Emanuel Araújo: reconhecimento de coleção/acervo/conservação/documentação histórica
Museu Bispo do Rosário – Rio de Janeiro
Prêmio Yêdamaria: instituições, pessoas e projetos que promovam ações de impacto amplo em processos educativos e de mediação nos vários campos das artes, em espaços formais e não formais
Ana Mae Barbosa
Prêmio Ciccillo Matazazzo: personalidade atuante no meio artístico
Bené Fonteles
Prêmio Mário de Andrade: crítico de arte, pela trajetória
Leonor Amarante
Prêmio Clarival do Prado Valadares: artista, pela trajetória.
Carmela Gross
Maria Eugênia Franco: curadoria de exposições
Raphael Fonseca (Coord. Geral), Aldrin Figueiredo, Clarissa Diniz, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos, pela exposição “Raio que o parta: ficções do moderno no Brasil” – Sesc 24 de maio, São Paulo
Prêmio Rodrigo Mello Franco de Andrade: instituição por sua programação
Instituto Moreira Salles (SP-RJ-MG)
Prêmio Antônio Bento: difusão das artes visuais na mídia
Leila Kiyomura pela revista Arte & Crítica