“História do Brasil – Branca” (2021), uma pintura (25 x 32 cm) sobre página do livro “História do Brasil I”, do artista catarinense Sérgio Adriano H, integrante da Coleção Collaço Paulo, é uma das 113 obras – 33 inéditas – que compõem a exposição “CORpo Manifesto”, atração no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro (RJ), até 15 de setembro.
Com 25 anos de carreira, o artista joinvilense adota diferentes linguagens artísticas, como fotoperformance, escultura, pintura, instalação e vídeo. Selecionadas pelos curadores Claudinei Roberto da Silva e Juliana Crispe, o conjunto de trabalhos resulta em um panorama da produção que aposta na crítica política e social em uma poética forjada na experiência de campo, na crua realidade, nas provocações alcançadas por suas performances, instalações e objetos. Suas representações abarcam assuntos delicados e pouco encarados pela sociedade e incitam um deslocamento necessário à reflexão sobre instâncias educativas e as ditas normatividades e modelos tradicionais. Ao reconsiderar o lugar da arte para a reparação histórica das populações negras, Sérgio Adriano H usa o próprio corpo como ferramenta artística contra o racismo estrutural e a invisibilidade secular da cultura afro-brasileira, a partir do conceito decolonial.
“Na obra ‘História do Brasil – Branca’ inverto as cores da cena histórica: corpos brancos chicoteiam corpos brancos no pelourinho. O gesto simples e radical provoca uma fissura na narrativa oficial, fazendo sentir o peso da violência que, no Brasil, recai majoritariamente sobre corpos negros, uma morte a cada 23 minutos. Ao transformar a cor dos personagens, busco tornar visível o que a sociedade insiste em naturalizar e silenciar”, contextualiza o artista. Para Adriano H, ter o trabalho agora na Coleção Collaço Paulo, que ele considera uma das mais importantes de Santa Catarina e do Brasil e, em exibição na exposição “CORpo Manifesto” no CCBB/RJ, “reforça a importância de refletir sobre como a história do país é contada, e, sobretudo, sobre quem ela tenta apagar”.
Outros desdobramentos
A obra de Sérgio Adriano H alinha-se à outras com matriz racial dentro da Coleção Collaço Paulo, como é o caso de Gustavo Nazareno, Miguel Afa, Silvana Mendes, Renata Leoa, artistas emergentes da atual cena brasileira, inseridos nas políticas de afirmação racial. O conjunto atende também os interesses de Júlia Otero, no seu projeto do doutorado “A Negritude no Acervo do Instituto Collaço Paulo: Uma História da Arte Sediada em Santa Catarina”, que tem como orientadora Danielle Benício e está inserida na parceria entre o Instituto Collaço Paulo e o Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). A ideia é investigar qual narrativa da história da arte é contada pelo prisma da negritude no acervo do instituto. Em cerca de 40 obras datadas entre os séculos 19 e 21, no conjunto pictórico que abrange naturezas-mortas, pinturas de gênero, retratos e escultura, a pesquisadora verificará as narrativas e as representações afrodiaspóricas e os modos de fazer dos artistas negros.
Otero quer também compreender o acervo relacionado à história da arte e inventariar a produção de artistas negros, bem como as obras que retratem pessoas negras no mesmo recorte de tempo-espaço. Os trabalhos serão analisados sob seus aspectos formais, socioeconômicos e culturais, alcançando as diferenças entre artistas brancos que representam a cultura afrodiaspórica e os artistas negros na expressão de sua identidade sociocultural vinculada à sua produção visual. A intenção é contribuir para a história da arte negra numa perspectiva mais inclusiva do século 19 até a atualidade.
Serviço
O quê: exposição “CORpo Manifesto”, de Sérgio Adriano H
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil, rua 1º de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro
Quando: qua. a seg., 9h/20h. Até 15.9.2025
Quanto: gratuito